de Esmeralda de Morais

 

 

Filho,
Eu quero hoje a tua volta.
Muitos dias e noites tu passaste
Longe de mim.
Muitos terás de contar,
Muito terás de ouvir.

Filho,
Eu quero hoje a tua companhia.
Fica ao pé de mim um pouco,
Não espere que eu adoeça,
Não espere que eu morra doente.
Talvez eu preferiria uma
Enfermidade hábil.
Morta, nada mais importará.

Filho,
Eu quero hoje o teu carinho.
Toque uma musica,
Cante uma canção.
Lembra-te que somos passageiros
Na grande aventura da vida.
Talvez eu parta muito breve,
E não tenhas tanto tempo
Como pensas.

Filho,
Eu quero hoje as flores do meu
Enterro.
De que servem as flores a uma morta?
Hoje eu poderei enfeitar
A minha mesa de trabalho
E a minha blusa de festa.
Os mortos não trabalham,
Os mortos não vão a festas.

Filho,
Eu quero hoje as tuas lágrimas.
Eu estou aqui e poderei amparar-te.
Não deixes para chorá-las
Depois que eu tiver partido,
Senão tu sentirás angustia
E eu sentirei tanta pena
Por não poder amparar-te…

Filho,
Eu quero hoje os teus presentes,
Eles me farão sorrir a alma.
De que me servirá um lindo túmulo
Com anjos e flores?
O mármore seria muito frio
E o bronze pesado demais.

Filho,
Eu quero hoje a minha morada,
Uma casa um pouco gentil,
Onde haja paz, onde haja livros,
Onde haja amor.
Bem vês que agora eu preciso de ti.
Por que precisarei depois?

Filho,
Eu quero hoje a história de tuas andanças,
A busca, a procura.
Que procuravas, enfim?
Tudo de bom e de belo está dentro de nós.
E de forte, também…
Portanto, não preciso buscar,
Portanto não adianta fugir.

Filho,
Eu quero a tua volta.
Vem enquanto há tempo,
Vem, procura viver de tal maneira
Como se fosse pensar,
Como se fosse não partir mais,
E não partir mais…

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[Escrito por dona Esmeralda Ferreira de Morais para seu filho, de 65 anos, que é residente na Associação Ministério Jericó, Belo Horizonte, MG, dependente de álcool e drogas. Ela tem Alzheimer e depende integralmente dos filhos, menos deste, a quem dedicou o poema.] Encontrado no blog de Jairo Larroza.

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