de Patrick D. Odum
No começo de Setembro de 2009, 22 pessoas desceram de um trem na estação da Rua Liverpool em Londres. A única coisa incomum que você teria notado sobre o grupo era sua idade: todos estavam entre 70 e 80 anos, parecendo que estavam num passeio organizado pela casa dos aposentados. E na realidade era um passeio, de um tipo. Mas não um passeio de prazer, não realmente. Era mais como uma peregrinação.
A última vez que eles fizeram aquela viagem – de Praga – fora setenta anos antes. Naquela época todos eram crianças judias, 669 delas, cujos pais haviam perdido seus empregos e casas para os Nazistas. Os pais deles os enviaram para novos lares em Londres, esperando encontrá-los depois. Entretanto, nenhum deles conseguiu. Os campos de concentração os impediram disso.
Mas essas crianças tiveram a chance de sobreviver. Elas cresceram e tiveram filhos e netos e até mesmo bis-netos. Nunca, porém, esqueceram o que poderia ter acontecido, ou que eles haviam sido salvos do destino dos pais deles. Setenta anos depois, 22 daqueles 669 fizeram a viagem novamente para se lembrar.
Não foi, porém, só para lembrar. O homem que os encontrou na plataforma da estação da Rua Liverpool era o mesmo que os encontrara setenta anos antes. O nome dele é Senhor Nicholas Winton, embora setenta anos antes ele não era Senhor Nicholas. Ele era um corretor de ações em Londres em 1939, quando um amigo em Praga lhe falou sobre a ocupação Nazista tomando os empregos e casas de judeus na cidade.
Nicholas começou a levantar dinheiro, implorou ao governo britânico por vistos, conseguiu documentos forjados, e achou famílias britânicas dispostas a adotarem as crianças. Então, quando ele ficou com tudo em ordem, fretou os trens que salvaram as 669 crianças de serem assassinadas nos campos de concentração. Ele os encontrou no dia em que chegaram. E ele os encontrou novamente, setenta anos depois. Ele tem agora cem anos, mas ele se apoiou na sua bengala, deu um aperto de mão a cada uma das 22 pessoas gratas e recebeu o agradecimento delas.
Eles lhe falaram de seus filhos e netos. Há, eles dizem, 7000 descendentes das crianças que Nicholas Winton salvou espalhados pelo mundo. Sete mil pessoas que conhecem a história de como um corretor de ações de Londres salvou seus pais, avós e bis-avós.
Com uma reserva tipicamente britânica, Nicholas parecia gostar de estar presente lá. “O problema há 70 anos atrás foi juntá-los com as pessoas que iam cuidar deles”, ele disse. “Hoje não tenho mais nenhuma responsabilidade”.
Não, desta vez a responsabilidade era dos 22. Eles estavam lá porque sentiram a necessidade de agradecer ao homem que os resgatou.
Há algo fundamental sobre gratidão. Algo básico. É por isso que ensinamos nossos filhos a dizerem “obrigado” e os fazemos escrever cartas de agradecimento quando alguém lhes dá um presente. Eu penso que é algo programado em nós, que é um dever agradecer quando alguém faz algo para nós.
Entretanto, embora seja algo programado em nós, não significa que nós sempre nos lembremos. Apesar de Deus ter nos criado com a capacidade de agradecer, o dano do pecado nos leva a olhar só para dentro. A conseqüência é um egoísmo que tende a notar somente o que nós não temos enquanto esquecemos das bênçãos que recebemos. O resultado é que nós nos tornamos incapazes de agradecer.
É por isso que a gratidão é um tema para qual o Bíblia volta vez após vez. “Sejam agradecidos”, Paulo diz à igreja em Colosso, e dois versículos adiante escreve, “tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.” (Col 3:17)
Há enfermidades espirituais para as quais a gratidão realmente é o único remédio. Egoísmo. Amargura. Ódio. Ganância. Cobiça. Todos estes têm uma causa em comum: obsessão com nós mesmos e com aquilo que pensamos estar faltando em nossas vidas. Porém, gratidão chama nossa atenção ao que nós temos, e para o quanto disto foi dado a nós por Deus sem nenhuma outra razão, senão o amor dele por nós. Quando nós somos gratos, nossa atenção está nele e naquilo com o que ele nos abençoou.
Às vezes, a gratidão dá muito trabalho. Vinte e duas pessoas pegando um trem para cruzar a Europa? Não teria sido mais eficiente todo mundo escrever uma mensagem? Enviar um presente? Bem, claro que teria sido. Entretanto, a eficiência não é o ponto, não é? O ponto é gratidão.
E, a menos que a gratidão lhe custe algo – pelo menos alguma inconveniência – então não vale muito, não é verdade? Você pode falar do quanto você é grato, mas a gratidão é uma daquelas atitudes internas – como amor e fé e esperança – que não são reais a não ser que eles provoquem uma mudança na maneira como vivemos e nas coisas que nós valorizamos.
Foi por isso que Deus mandou os Israelitas fazerem ofertas de agradecimento – não porque ele precisava do gado e cabras deles, mas porque eles precisavam expressar gratidão de uma maneira que lhes custava. E certamente você não pensa que só porque nós não somos Israelitas não sejamos de alguma maneira isentos de gratidão que nos custa algo? Você realmente não pensa, que nós que ouvimos as Boas Novas de Jesus, que fomos salvos da morte pelo sacrifício dele, temos apenas que acenar com a cabeça e piscar os olhos e dizer, “Obrigado, Deus?”
É isso que é a adoração: gratidão que nos custa algo. É um indicador do quão distante nós nos desviamos do fato que a “adoração” é avaliada pelo quão bem nos faz sentir:
“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus…” Isso, Paulo falou para os cristãos em Roma, é a “verdadeira adoração”. (Romanos 12: 1).
Nosso chamado é de nos oferecer – nossa energia, nossas prioridades, nossas posses, nossas paixões – como uma ação de graças ao Deus que mostrou tal clemência para conosco.
O que será que nossos filhos e netos lembrarão sobre nós? Minha oração é que meu filho, e os filhos dele, se lembrarão de mim como alguém que foi salvo pela graça de Deus por meio de Jesus e que viveu uma vida de ação de graças. Eu quero que eles se lembrem de mim como alguém que teve gratidão no coração, e que fez tudo o que ele fez como uma expressão de graças a Deus. Isso não é para que eles falem bem de mim, mas para que lembrem do Deus que dá a graça pela qual eu era tão grato.
Veja também de Patrick Odum “Carta de um Ladrão”.
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