de Dennis Downing
Tenho o privilégio de servir ao Senhor num ministério que me coloca em convívio com vários trabalhadores informais. Seu Acácio, Diógenes, José Adilson (o “Bazar”) e vários outros tentam ganhar o pão de cada dia para suas famílias vendendo pipoca e coxinhas, refrigerantes e água nas ruas ao redor de uma praça na cidade onde eu moro.
Eles não tem vale transporte, nem ticket refeição. Não gozam de plano de saúde, nem décimo terceiro, e muito menos de férias remuneradas. Eles levantam cedo e puxam sua carroça, bicicleta de carga ou carrinho para a esquina ou parada de ônibus onde passam o dia no sol e na chuva, sem saberem se naquele dia voltarão para casa com vinte reais ou vinte centavos.
Naquela mesma praça tem uma família inteira de guardadores de carros (os famosos “flanelinhas”), que cuidam dos carros dos clientes do banco, do laboratório e dos fiíes da igreja na esquina. Cada dia da semana pertence a um membro diferente da família, e cada um deles passa seu dia na rua lavando e cuidando dos veículos ali estacionados.
Eu sei que tem pessoas desonestas e maldosas na informalidade, como em qualquer área. Talvez as pessoas que trabalham neste ramo são mais visadas porque, se roubarem ou venderem “gato por lebre”, sabe-se logo. É diferente daqueles lá em cima que conseguem furtar milhões escondido, sem ser flagrados ou punidos. Mas, os homens e mulheres que trabalham na informalidade que eu conheço são alguns dos trabalhadores que eu mais admiro.
O fiteiro e o feirante, a senhora que vende café da carrocinha, e o aposentado que vende cachorro quente do carrinho, a maioria vive à margem da sociedade. Entretanto, são alguns dos seus membros mais admiráveis. Não tem patrão em cima pressionando, nem cobrança se não aparecer no posto. Por outro lado, se passarem quinze dias no hospital, vai ser num hospital público, e, quando sairem, vão ter um buraco de quinze dias na renda do mês para cobrir.
Por que é que eles trabalham em situações tão precárias e inseguras? Por que não ir atrás de um emprego formal com mais segurança e estabilidade? Primeiramente, por falta de qualificação. Muitos que trabalham na informalidade já tentaram uma vaga de emprego e viram que não havia lugar para eles por falta de treinamento e baixa escolaridade. Outros, por motivos de idade ou saúde, descobriram que as portas não se abrem para pessoas como eles. Outros tem que cuidar de um ente querido e não dispõem dos dias e horários fixos que emprego formal exige.
Há outro motivo pelo qual estes homens e mulheres trabalham na informalidade. É porque recusam roubar, vender drogas, ou se vender. E pode acreditar, não falta oportunidades. É só a integridade e força de vontade deles mesmo que os faz levantar e voltar à esquina ou à parada de ônibus cada dia para tentar ganhar o suficiente para mais um dia de vida.
O que eu queria registrar nesta reflexão é justamente minha admiração por todos aqueles que trabalham sem proteções trabalhistas, sem a ajuda de um sindicato ou categoria profissional, e que mesmo assim, são honestos, trabalhadores e bons cidadãos.
Já observei esses amigos meus dando de graça um lanche a um morador de rua, uma oportunidade para trabalhar a um ex-viciado, orientando um estranho perdido e sendo educados até com pessoas que os trataram com desconfiança ou desdém. São pequenas demonstrações de integridade e cidadania que são mais admiráveis por serem feitas com a naturalidade de quem faz, não para serem vistos, mas porque possuem verdadeiro caráter.
Se tiver a oportunidade nesses dias, compre algo de um feirante, de um vendedor ambulante, daquela senhora na barraca ou daquele fiteiro. Aproveite a oportunidade para lembrá-los de que eles também são trabalhadores, e tão merecedores quanto qualquer outro do seu reconhecimento no “Dia do Trabalhador”. Melhor ainda, qualquer dia desses, quando comprar algo de um deles, agradeça-lhe por perseverar e por fazer tudo que pode com o pouco que possui; por ser um bom trabalhador, mesmo que ninguém reconheça o quanto trabalha. Será que alguém uma vez fez isso com aquele carpinteiro de Nazaré?
Para Seu Acácio, Diógenes, Bazar, e todos os seus colegas na rua e nas paradas, parabéns. E, Feliz dia do Trabalhador! Você merece, e que Deus lhe abençoe!
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